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Solidariedade de Aparências

Em 1940, Drummond escreveu sobre o "alheamento do que na vida é porosidade e comunicação", no poema "Confidência do Itabirano". Essa porosidade seria a empatia, a capacidade de se identificar com o outro, que o autor não deteria por ter, segundo ele, nascido em Itabira. No mundo em que vivemos atualmente, no entanto, essa dificuldade em se conectar com o próximo e, em última instância, sentir a dor dele, não é exclusiva dos itabiranos.

Vivemos em uma sociedade marcada pela violência. Todos os dias somos bombardeados (com o perdão do trocadilho) por imagens de assassinatos, roubos e assédios, sejam eles reais ou fictícios. A morte, outrora temida pela humanidade, nunca nos vigiou tão de perto, à espera do menor descuido para, senão nos levar, deixar algum trauma intenso.

Em meio a tiros e sequestros já cotidianos, é difícil que algo nos comova verdadeiramente. Quantas vezes não ouvimos notícias sobre chacinas na África, paramos um momento para um lamento, ou quando muito uma rápida oração, e seguimos nossas vidas do mesmo jeito de antes?

A sociedade banalizou a vida. Com milhões de seres humanos vivendo no planeta, trezentos a mais ou a menos não farão diferença, certo? E, embora um atentado choque o mundo por algumas semanas, após esse tempo provavelmente será esquecido, a menos que tenha ocorrido em algum país desenvolvido.

Apesar das frequentes manifestações virtuais de apoio às vítimas de violência, com campanhas no Facebook cheias de hashtags, são poucos os que verdadeiramente sentem e lamentam o sofrimento de outras pessoas. Dores e tragédias se transformam em discussões sem sentido nas redes sociais (Paris X Mariana), chacinas são retratadas em filmes quase como se tivessem acontecido em outra dimensão, e a solidariedade existe apenas para ser mostrada. Afinal, depois de tudo, como previa Drummond, os inocentes do Leblon passarão um óleo nas costas, e esquecerão.

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