Vários pontos de vista ou Sobre arroz jollof, esteiras e bandeiras
- Júlia Mayumi
- 20 de nov. de 2016
- 2 min de leitura
A premiada autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie (autora de "Americanah", cuja resenha você pode ler aqui) apresentou em 2013 uma palestra na conferência TED sobre a importância de conhecermos todos os lados de uma história (você pode assisti-la aqui, tem menos de 20min). "Meio Sol Amarelo", publicado em 2008 no Brasil pela Cia. das Letras, segue essa ideia ao trazer três visões diferentes durante a narrativa. O enredo central é a guerra civil durante a tentativa de criar o estado de Biafra, no sul da Nigéria. Olanna, uma jovem herdeira de uma família nigeriana milionária que leciona sociologia na Universidade de Nsukka e vive com um catedrático revolucionário, Ugwu, um jovem de uma aldeia pobre que é contratado por Odenigbo (amado de Olanna) como empregado doméstico, e Richard, um jornalista inglês que vai para a Nigéria a fim de escrever um livro sobre a arte local trazem os fatos mais cruéis e os desenrolares mais sutis dessa história. Através de pesquisas que incluíram membros de sua própria família, a autora apresenta aos leitores ocidentais o estado de Biafra, descrevendo sua origem e seu destino de forma coesa, precisa e compreensível, relacionando esses acontecimentos às vidas particulares dos personagens, sem se afastar da proposta ficcional do romance.

[eu falhei em tirar uma foto decente do livro, então fiquem com a bandeira de Biafra]
"Meio Sol Amarelo" é um retrato honesto e realista da vida em meio a uma guerra civil. Através de personagens muito bem construídos, podemos avaliar as situações dos mais variados ângulos, explorando não só suas opiniões sobre a guerra, mas sobre fatos que vão afetando suas vidas pessoais e suas reações a eles. A colonização europeia é fortemente criticada através do professor Odenigbo, assim como a figura de Richard surge para evitar a ideia de que "todos os brancos são 'maus'"; o livro não é, de forma alguma, maniqueísta, muito pelo contrário; em vários momentos, os protagonistas tomam decisões reprováveis, porém coesas dentro de suas realidades. A variedade de enfoques narrativos é um convite ao leitor para que nos coloquemos no lugar de pessoas que estão a anos-luz de nossas próprias realidades, em termos materiais, mas que passam por conflitos universais, que envolvem traição, machismo, tradições e muito preconceito.
Com linguagem fluida, narrativa que te faz devorar as páginas com fervor e personagens envolventes, "Meio Sol Amarelo" é uma forma incrível de aprender mais sobre a história de um dos conflitos mais sangrentos do pós-2ª Guerra, além de te apresentar mais um romance incrível de Chimamanda, uma das autoras mais importantes de sua geração.
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