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Herois e idiotas ou Sobre socos, chutes e amizade

Raphael Draccon é um dos nomes mais importantes na literatura brasileira contemporânea, ao menos para os jovens: aos 35 anos, já publicou a trilogia Dragões de Éter e os livros únicos Fios de Prata e Espíritos de Gelo. Este ano foi lançado o último volume da trilogia Legado Ranger, que estreou o selo Fantástica, da gigante editorial Rocco, que é o tema desta resenha.

Cemitérios de Dragões, Cidades de Dragões e Mundos de Dragões são "cartas de amor aos tokusatsus", nas palavras do autor. Repletos das referências que compõem o estilo de escrita de Draccon, os três livros trazem como protagonistas cinco jovens adultos que, literalmente, surgem do nada em um universo desconhecido, habitado por anões, répteis alados e demônios. Derek, Amber, Ashanti, Daniel e Romain, os únicos humanos daquela dimensão, precisarão se unir para não só sair de lá como impedir que criaturas teoricamente ficcionais atinjam nosso mundo, trazendo caos e destruição.


[agradecimento especial à minha amiga Iza pela foto]


Draccon era professor de artes marciais e já trabalhou como coreógrafo de cenas de luta, o que explica a sua insistência em narrar tim-tim por tim-tim cada movimento de cada batalha. Socos, chutes e espadadas são descritos com riquezas de detalhes, em cenas muito bem elaboradas, porém intermináveis. O enredo é muito cinematográfico - se fosse feito um filme, não seria necessário alterar uma linha; as cenas estão praticamente roteirizadas, só faltaram as posições das câmeras. Se muitos criticavam a quebra de emoção supostamente presente em Dragões de Éter (do que eu discordo totalmente, Bardo S2), em Legado Ranger há um excesso de fervor nas batalhas, cujas cenas são extremamente longas e em alguns momentos dão a impressão de estarem enchendo linguiça, por assim dizer.

Os personagens estão bem aquém do potencial criativo do autor, e o desenvolvimento deles se dá de forma forçada e previsível. Romain é o alívio cômico da história (ele mesmo afirma isso em alguns momentos), o que torna quase impossível ao leitor não gostar dele. Ashanti e Amber trazem o protagonismo feminino tão aclamado em nossos tempos, mas passam a impressão de terem sido criadas justamente para atender à essa exigência; são fortes e decididas, mas, por dentro, machucadas e tristes - e, é claro, têm os corações sacudidos por um romance. Típico. Aliás, além de Ravenna, o demônio-bruxa, elas são as únicas mulheres realmente importantes para a trama.

[A figura de Daniel Nakamura me deixou particularmente indignada, mas esse ponto será discutido em outro post.]

Mihos, que vive na dimensão dos dracônicos, é um buraco no enredo. Embora fundamental para o enredo nos dois primeiros volumes, no terceiro é praticamente esquecido.

 

Com personagens que deixam a desejar e uma história que com certeza agradará aos amantes dos antigos seriados de robôs gigantes pisoteando Tokyo, Legado ranger decepciona - e muito! - os fãs de Dragões de Éter e passa longe de ser um dos melhores trabalhos do autor. Recomendados aos nostálgicos e nerds assumidos, os três volumes podem ser resumidos em três palavras: rangers lideram o caminho.


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