Uma vida em silêncio ou Sobre o Mundo dos Surdos
AVISO!!
Antes de ler, tenha em mente que a minha praia são os livros, não os filmes. Não sei absolutamente nada sobre técnicas cinematográficas, iluminação, atuação, história do cinema... Mas resolvi escrever sobre filmes por aqui porque, assim como os livros, eles contam uma história, e para um amante das narrativas, todas as formas de expressão são válidas. Tendo dito isto, vamos ao texto.
"A família Bélier" é um filme francês de 2014 que trata da vida de uma família de classe média nada convencional: o pai, a mãe e o irmão de Paula, a protagonista, são surdos. Os quatro vivem em uma fazenda, criam bezerros e vendem laticíneos na feira local. Aos 15 anos, Paula é a intérprete de seus parentes, intermediando as relações entre eles e empregados, clientes e médicos.
Logo no início da trama, Paula se inscreve para a turma do coral, a fim de se aproximar de um garoto, e acaba descobrindo que possui uma voz belíssima. Seu professor se oferece para lhe ajudar a trabalhar seu dom e participar de uma audição que lhe daria a possibilidade de conseguir uma vaga em uma escola de música parisiense. Ao mesmo tempo, o pai de Paula, cansado dos políticos enfadonhos de sua cidade, decide se candidatar à prefeitura, e, diante da indisponibilidade da filha, secretamente se preparando para a apresentação de canto, começa aos poucos a depender menos dela. Essa, aliás, é a grande missão dos pais de Paula: confrontar o mundo não-surdo, que até então vinha sendo evitado tendo a filha como intermediária das relações.
Uma das sacadas mais geniais desse filme, na minha opinião, foi trazer dois elementos opostos: as conversas em linguagem de sinais e as canções, interpretadas pela atriz principal. As músicas, aliás, são um show à parte: melodias doces e letras bonitas que ficam ainda mais bonitas por serem em francês (*----*).
Através de uma história linda e emocionante, "A família Bélier" nos apresenta um mundo sobre o qual não nos ocorre pensar com frequência: um mundo sem sons. Como é a praia sem o barulho das ondas, a metrópole sem as buzinas dos carros, as fazendas sem o cacarejar das galinhas, as tempestades sem o uivo dos ventos?
