top of page

Por que a literatura brasileira não é valorizada no mundo?

A autora paulistana Lygia Fagundes Telles, de 92 anos, foi indicada pela União Brasileira de Escritores para concorrer ao Nobel deste ano. O acontecimento desencadeou algumas matérias em sites de notícias falando sobre a pergunta que dá título a este post. O presidente da Academia Brasileira de Filosofia disse ao jornal A Tribuna que é necessário organizar "políticas públicas de incentivo à cultura fomentando uma massiva tradução e publicação no exterior".

O preconceito dos brasileiros em relação à sua própria cultura é algo muito forte, em especial nos recém-chegados à elite. Ícones como Kid Abelha, Roupa Nova e Paralamas do Sucesso são por muitos considerados "música de velho". Os livros, então, que já são pouco acessados naturalmente, perdem espaço nas prateleiras para best-sellers americanos e britânicos. Isso quando não estão lá por serem leitura obrigatória de algum vestibular ou concurso público.

Existem centenas de autores brasileiros de excelência. Machado de Assis, Drummond, Clarice Lispector (que não é latino-americana de nascença, mas de coração), Jorge Amado, José de Alencar, Graciliano Ramos e tanto outros que conhecemos somente das aulas de literatura. Tantas obras incríveis legadas aos fundos empoeirados de um sebo ou ao final de uma lista de downloads gratuitos. Enquanto isso, os clássicos da língua inglesa são lidos e comentados diariamente. Pergunte a uma autodeclarada "fã de romances" se já leu Orgulho e Preconceito, depois peça sua opinião a respeito de Senhora. "Li até a metade porque ia cair na prova" será o máximo de disposição que você provavelmente obterá dessa pessoa. Não estou questionando a evidente notoriedade de Jane Austen e de outros autores ingleses renomados, mas sim questionando a ausência de interesse dos brasileiros pela literatura de seu próprio país.

[Na foto, um dos melhores livros nacionais já publicados]


Os escritores novos, então, nem se fala. Duvido que você seja capaz de citar dez autores nacionais do séc. XXI - eu mesma conheço poucos, e estritamente de literatura adolescente, da qual iniciei meu processo de desvinculamento (essa palavra existe?) há apenas três meses. São poucos os que chegam a ser aclamados pelo público, não por serem inferiores aos internacionais em termos de técnica, talento ou tramas, mas simplesmente por estarem na seção de "literatura nacional" nas livrarias. Honestamente, a simples existência de divisões por nacionalidade do autor me incomoda - como se o país de onde veio pudesse ditar a qualidade de seu trabalho. De qualquer forma, ser publicado no Brasil já é um milagre. Conseguir divulgação e reconhecimento, então, são outros quinhentos. Os brasileiros estão acostumados a duvidar da qualidade da produção de seus conterrâneos, talvez porque sempre lhes foi dito que nosso governo é uma bagunça, que nada aqui funciona, que bom mesmo é o que vem de fora. Temos dezenas de exemplos para provar que esse pensamento, além de estar equivocado, gera um ciclo vicioso. Se não houver apoio, como os projetos culturais nacionais se realizarão? Se ninguém comprar livros brasileiros, como as editoras investirão neles?

Os brasileiros se orgulham do Carnaval, do futebol, da comida e de vários outros estereótipos. Todos precisam olhar com mais carinho para a literatura nacional, admirar seus pontos fortes e incentivar o aperfeiçoamento dela. Afinal, se um filhote de leão não acreditar que é capaz de rugir bem alto, como convencerá os outros de que é o líder?

 

Recomendado:

- Raphael Draccon fala sobre ser escritor no Brasil http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/01/1570474-opiniao-sim-e-possivel-viver-como-escritor-no-brasil.shtml

- Artigo do jornal A Tribuna sobre o assunto

http://www.atribuna.com.br/noticias/noticias-detalhe/cultura/por-que-nenhum-autor-brasileiro-recebeu-o-nobel-de-literatura/?cHash=0d11146ade98c22df5f1541c3ab03aeb

Obrigada por ter lido! Deixe seu comentário aqui embaixo e compartilhe se gostou!

Posts Recentes!
Temas!
Nenhum tag.
bottom of page