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Sentimentalismo virtual ou Sobre a era dos "textinhos"

Tornou-se cada vez mais comum nas redes sociais, em especial no Facebook, alguém postar uma selfie acompanhada de uma legenda de três ou quatro parágrafos, que pode começar com trechos que já viraram piadas ("o que dizer dessa pessoa que mal conheço e já considero pacas?"), citações ou, o mais comum, "parabééééns" - já que, aparentemente, qualquer conquista, principalmente a de mais um ano de sobrevivência naquela que tornamos uma inóspita sociedade, merece ser congratulada -. Os chamados "textinhos" são repletos de agradecimentos pela existência do outro, piadas internas e, no caso das estereotipadas tias, "Deus te abençoe" ou "um beijo pra todo mundo aí de casa". Sejam desde aniversário, as mais comuns, até mensagens melosas de casais, as piores, essas enormes legendas inundam as páginas das pessoas com frases fofas e gentilezas. A geração dos textinhos está apenas nos seus primeiros passos.


Embora tenha começado de forma um pouco desgostosa, devo ressaltar que sou totalmente adepta dos textinhos. E justamente por isso, comecei a me questionar a respeito da validade dos mesmos.

 

Quantas vezes você já interrompeu um rolê com seus amigos, mesmo que estejam comemorando algo, para fazer um discurso sobre a amizade de vocês? Nunca, eu suponho. Acredito na validade dos textinhos no sentido de que através deles podemos expressar o carinho que temos pelas pessoas, já que normalmente isso não é possível na vida real.

MAS, você pode estar se perguntando, antes de existirem as redes sociais, as pessoas não eram cubos de gelo introspectivos; elas já transmitiam afeto através das palavras. SIM, pois elas nutriam um hábito ma-ra-vi-lho-so que atualmente está caindo em desuso: escrever cartas e bilhetes. Longas cartas de amor ou apressados bilhetes de aviso marcavam presença nas carteiras e gavetas das pessoas, enchendo seu cotidiano de caligrafias ímpares, estilos pessoais de escrita e papeis de carta enfeitados - a materialização do sentimento dos remetentes. As mensagens escritas traziam emoções palpáveis, literalmente. Pode ser culpa do meu espírito saudosista (sim, pessoas de 17 anos podem ser assim hahahaha), mas, na minha opinião, uma das coisas mais legais de se fazer é reler bilhetes escritos por antigos colegas de sala e cartões de aniversário - inclusive, há uma passagem sobre isso em "Memórias Póstumas de Brás Cubas", na qual o narrador afirma ao leitor que "se guardares as cartas da juventude, acharás ocasião de 'cantar uma saudade'".

[na foto, alguns dos cadernos e agendas que usava como diário ou pedia aos meus amigos que escrevessem, no final do ano]

É claro que é possível simplesmente voltar no seu perfil até alguma data específica e reler os posts deixados pelos seus amigos. Mas é altamente provável que, quando o Facebook sair do ar, todas aquelas palavras doces sejam apagadas para sempre. Afinal, quantas pessoas salvaram os depoimentos que recebiam pelo Orkut?

 

Atualmente (alerta de advérbio clichê em redações!) os textinhos são o jeito mais eficiente de transmitir agradecimentos, felicitações, etc. Principalmente se forem dirigidos a grandes grupos. Se você é praticante, continue, espalhe amor por esse mundo porque estamos precisando <3 Mas considere escrever cartões de vez em quando. Tenho certeza de que as pessoas das quais você gosta ficarão muito felizes de encontrarem sua letra no meio dos papeis delas quando forem "cantar uma saudade".

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