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As vozes da revolução ou Sobre os moradores do Pelourinho

"Suor" é o terceiro romance escrito por Jorge Amado, publicado em 1934. Ambientado na zona pobre de Salvador, o livro trata dos habitantes de um tumultuado cortiço, onde vivem representantes de todas as partes marginalizadas da sociedade: prostitutas, homossexuais, operários, lavadeiras, mendigos, estivadores, etc. A narrativa é linear, mas não contínua: vários capítulos aparecem de forma meio avulsa, sem nexo uns com os outros, muitos contando em poucos parágrafos a história de alguma personagem que passara pelo prédio. A única personagem que apresenta evolução é Linda, uma jovem que vive com sua madrinha, costureira, e é apresentada aos ideais socialistas pelo operário Álvaro.


Como não tinha certeza se havia entendido a proposta do livro corretamente, fui em busca de análises na internet, mas não encontrei muita coisa, o que me levou a concluir que este não é um dos livros mais comentados do autor. Sendo assim, terei que me contentar com minhas próprias conclusões.

O romance tem como objetivo expor a realidade da vida dos mais necessitados, sem contudo apresentar soluções práticas - o desfecho traz a ideia de uma revolução comunista, que não chega a se concretizar imediatamente, mas dá a entender que Linda comandará algum tipo de grupo socialista. Mais uma vez, os ideais comunistas são presença constante em uma obra de Jorge Amado - estes, muito mais bem-colocados em obras como Capitães da Areia; aqui, soam quase como um milagre, como algo que viria de repente e melhoraria as vidas de todos. Além disso, não há propriamente um enredo central: conforme mencionado acima, os capítulos apresentam cenas praticamente isoladas - há vários personagens que se repetem, mas são tantos que acabam se misturando na memória e mal dá para lembrar que este ou aquele já foi mencionado. Nesse aspecto, dá para fazer uma analogia com O Cortiço, de Aluísio Azevedo (a larga quantidade de personagens, o cenário, o determinismo e a sexualidade são aspectos comuns a ambos os livros). Porém, diferentemente da obra naturalista, em Suor, além da questão sexual ser tratada mais como uma fonte de renda do que como um instinto animal (dada a presença de várias personagens prostitutas), há um exemplo de quebra do determinismo (tal qual ocorre com Pedro Bala em Capitães da Areia): Linda, que estaria destinada a passar seus dias tentando conseguir um marido rico, torna-se socialista de carteirinha. Outra semelhança com Capitães é o sentimento de união entre os membros de uma mesma classe social:


" - Você não vê? Nós fizemos uma outra escada na casa.

- Como?

- Sim. A escada era a única coisa que ligava os inquilinos... Hoje há outra, a solidariedade que nós despertamos..."

 

Mais uma vez, a sororidade ganha espaço em uma obra amadiana. Se em Mar Morto as irmãs eram as esposas dos marinheiros, dessa vez são as lavadeiras que se unem pela sobrevivência mútua.

"Apesar de dizerem que a velha árabe do sótão, a mais afreguesada das lavadeiras, era amasiada como filho e tirava o sujo da roupa mas o juntava no corpo, que Dos Reis era pancada, que Josefa deitava com os homens para quem lavava, que Vitória apanhava do marido - existia entre elas uma solidariedade que as levava a emprestar sabão à companheira sem dinheiro e a emprestar trabalho àquelas de freguesia reduzida. Estas, quando conseguiam freguesia boa, pagavam o trabalho emprestado nos dias maus. Até mesmo à velha Maria, antipatizada por todas, elas ajudavam. Sabiam que não receberiam paga. A velha fazia era rogar praga aos molecotes, filhos das outras, que pisavam na roupa estendida no pátio."


 

A impressão que Suor passa é a de que foi uma experiência estética do autor, como se ele estivesse praticando a temática e a criação de personagens, para então se aprofundar em outras obras. Não é um livro absolutamente necessário para coisa alguma, mas vale a leitura, de qualquer forma. Afinal, olha só quem o escreveu, né?

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