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Porque professor não deve pegar aluno

Quando o relacionamento professor-aluno ultrapassa os limites

Durante a Ditadura Militar, não havia qualquer tipo de liberdade em sala de aula. Os professores e os alunos temiam a censura, a repressão, os infiltrados do governo e tudo o mais. Nada que não estivesse estritamente relacionado ao conteúdo era discutido.

Com queda dos militares, o clima em sala de aula foi, aos poucos, melhorando. Os professores podiam ministrar o conteúdo de forma mais livre e dinâmica, facilitando o aprendizado. Os alunos, em contrapartida, também passaram a contribuir com o andamento da aula, trazendo perguntas e novos pontos de vista. Essa troca de informações e vivências é muito enriquecedora na formação dos futuros universitários. Mas e quando essa relação professor-aluno deixa de ser estritamente profissional e passa dos limites docentes?

Não encontrei na internet nenhuma lei específica sobre o tema, mas os especialistas em educação reprovam relacionamentos amorosos entre quem está em cima e quem está embaixo do tablado. No colégio, isso é claramente ilegal, uma vez que os alunos são, em geral, menores de idade. Mas e em cursinhos pré-vestibulares, cursos extracurriculares como idiomas e esportes, ou faculdade? Pode?

[O personagem Ross Geller se relaciona com sua aluna, Elizabeth, na 6ª temporada do seriado americano "Friends"]


Não, não pode. Ao se relacionar com um aluno, o professor está usando sua autoridade para influenciar a atitude do outro; a segurança e o poder que ele carrega por estar numa posição hierarquicamente superior tendem a atrair os mais inseguros e frágeis. Embora em graus diferentes de acordo com a idade, essa pressão é decisiva para convencer o aluno a se relacionar com ele. Muitas vezes, o assédio se dá de tal forma que o estudante acredita que é "o favorito", e chega a se sentir lisonjeado pela atenção recebida. Na maioria dos casos, mesmo que perceba o abuso, não tem coragem de denunciar, por medo da exposição e até mesmo de retaliação por parte dos colegas ou da coordenação.

Muita gente não vê problema em "professor pegar aluna". Mas isso precisa ser encarado como algo sério, pois além de prejudicar o aprendizado, é uma forma de abuso sexual, sim. Quando o aluno consente, ele o faz pela já mencionada pressão que a superioridade do professor, tanto em termos acadêmicos quanto em maturidade, exerce. O uso do jaleco e do diploma como forma de manipulação é algo que deve ser discutido, principalmente nos cursinhos, que são ambientes mais informais. É preciso que a linha que divide as duas posições em sala de aula se mantenha, para garantir não só o andamento do curso mas a integridade dos alunos, em posição mais vulnerável no ambiente escolar. Mesmo nos cursinhos, onde a liberdade é maior pela ausência de provas e tudo o mais, essa relação precisa ser bem delimitada, afinal, não dar notas não torna alguém menos professor.


 

Se você ainda acha ok professor namorar aluna, por favor, leia o depoimento que faz parte de uma matéria sobre o assunto, publicada pela Revista da Folha em 2003 (o link está no final deste post):

"É a coisa mais normal do mundo e mais frequente do que as pessoas pensam. É a perfeita via de duas mãos: para o aluno, é comum endeusar o professor e, para o professor, exercer essa atração afaga o ego. Você se sente jovem, valorizado", afirma Pedro*, 43, ex-professor e hoje publicitário em São Paulo.O carioca Pedro, que começou a dar aulas aos 26, na PUC-Rio, calcula que tenha saído com "mais de 40 universitárias". Era só um pouco mais velho que a turma, diz, conversavam sobre os mesmos assuntos, gostavam de tomar cerveja juntos depois das aulas. "Teve uma época em que eu tinha uma turma de nove alunas e acabei saindo com oito delas. A nona era lésbica", lembra. Ele diz que não ganhava ninguém pelo físico ("Não sou bonito, mas sou inteligente e bem informado"), mas pela "cabeça". "A sala de aula era perfeita para eu desfilar minha sedução, sempre pelo conhecimento, pelo senso de humor. Além disso, mesmo novo, o professor tem um pouco de pai, né? Transar com ele traz algo de incestuoso", acredita.

[http://www1.folha.uol.com.br/revista/rf1603200302.htm]


 

EDIT: Uma moça que leu este artigo me mandou um email oferecendo seu depoimento, que colocarei aqui. O nome dela não será divulgado para preservar sua privacidade.

Essa é minha última tacada. Se você ler isso e, ainda assim, achar que "tem mina que provoca", por favor, me exclua da sua vida, eu não mereço a sua existência.

"O professor e eu nos conhecemos quando eu tinha 17 anos. Eu já era feminista na época, mas isso não impediu essa relação de acontecer; na minha cabeça, não tinha o menor problema eu me envolver com o professor, porque quando nos aproximamos eu já tinha 18, o ensino médio estava prestes a acabar, a diferença de 8 anos de idade não era um abismo e ele nunca foi meu professor efetivo, só em aulas preparatórias pra segunda fase dos vestibulares e em extracurriculares. Me enganei completamente. Ele era um professor de humanas que dizia apoiar o feminismo, que fazia seus discursos em defesa da equidade de gêneros durante as aulas, era um cara divertido e muito sensível. Isso, no ambiente machista e opressivo do meu colégio, era por si só cativante. O professor não estava fazendo mais do que a sua obrigação ao não oprimir as meninas (meninas sim, porque alunas do ensino médio não são mulheres como eles querem que sejam), mas isso era tão raro que parecia ser uma qualidade. Me iludi e me fodi depois. Me envolvi com ele durante dois meses, e nesse tempo, fui descobrindo uma merda atrás da outra. O cara soltava um machismo atrás do outro, mas sempre de maneira sutil, pra não quebrar a imagem politizada dele. Me contava sobre como ele e o amigo acharam "linda" (troque o "linda" por "gostosa" e enxergue melhor a objetificação) a minha amiga que foi tirar dúvidas com eles no plantão do colégio, como ele ficou chateado com uma mina que não quis ficar com ele no carnaval e como ela não tinha colocado nenhuma gota de álcool na boca (e assim não tava bêbada o suficiente pra ficar com ele). Quando eu ficava incomodada com algum desses relatos, ele admitia o erro e pedia desculpas porque sabia que não deveria ter feito/falado aquilo que me desconfortou. E ele vivia assim, fazendo merda e pedindo desculpas por isso depois, mas sem a menor intenção de evitar o erro da próxima vez. Ele usava ideias como a liberdade sexual feminina pra conseguir sexo, falava que se houvesse consenso, nada era proibido, só pra diminuir o problema que existia na nossa diferença de idade e na relação de poder onde ele detinha a força. Eu relevava, muito manipulada pelos pedidos de desculpas dele, mas os machismos nunca deixaram de me incomodar. Só tive forças pra sair desse rolo quando descobri que ele transou com uma aluna dele menor de idade. Com isso, fui relembrando de tudo que eu deixei passar e contabilizei pelo menos 9 alunas, 5 delas amigas minhas, com quem ele ficou. Imagino que essa condição dele seja efebofilia (atração sexual por adolescentes), mesmo que todas essas meninas tivessem pelo menos 16 anos nas respectivas épocas do envolvimento. Hoje, com mais informação e (infelizmente) experiência, não consigo aceitar um relacionamento professor-aluna. Existem aí inúmeras relações de poder, seja pelo homem ser socialmente mais opressor que a mulher (os papéis de gênero tão aí pra comprovar isso), o que é catalisado pela diferença de idade que dá aos professores maior poder de manipulação e sedução (leia-se assédio), seja pela própria posição hierárquica num ambiente cujo o único propósito deveria ser a formação acadêmica."

 

NOTA: Optei por usar os substantivos no masculino porque queria deixar subentendido que todos os sexos estão sujeitos à situação discutida - professor com aluna, professora com aluno, professor com aluno, professora com aluna... E, infelizmente, no nosso idioma, não especificar gênero significa usar o masculino. Mas isso é pano para outra manga...

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