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Turma da Mônica e a sua pretensa representatividade - parte 1

Como muitos brasileiros, eu cresci lendo os gibis da Turma da Mônica. Tinha uma pilha deles no armário, e passava tardes entretida com os quadrinhos que iniciaram muitos de nós ao mundo da leitura. Em 2008, no centenário da imigração japonesa no Brasil, Mauricio de Souza criou as personagens Tikara e Keika como homenagem. Eu fiquei, é claro, muito feliz, afinal, pra variar, alguma coisa de que eu gostava finalmente teria personagens de origem asiática.

MAS, eis que, para minha infelicidade, a dupla nipônica não fez mais do que meia dúzia de passagens pelas historinhas, e puf, voltamos à estaca zero.

Esses dias estava relendo a edição 47 da Turma da Mônica Jovem, intitulada "Bem-vindos ao Japão" - uma história que mostra os pontos mais famosos da cultura, como os cosplayers e o sumô, mas termina com o clássico e pobre clichê dos super sentais - e voltei a refletir sobre Tikara e Keika. Uma passada rápida pelas outras edições do autointitulado "mangá" revela as poucas aparições dos dois amigos, normalmente para fazer algum comentário aleatório sobre hábitos japoneses ou apenas para fazer quórum (como é o caso do aniversário de quinze anos da Marina, quando os roteiristas desenterraram personagens dos quais ninguém se lembrava mais). Entendo que talvez Mauricio tenha criado-os apenas por ocasião do Centenário, mas ele, que parece tão ligado à cultura japonesa que criou a Turma Jovem baseado nos estilo dos mangás, poderia aproveitar a deixa e desenvolver aquilo que motivou a criação de centenas de personagens: retratar a diversidade.

Dorinha, Luca, Humberto, Maria Mello, Isa, Jeremias, Quinzinho, Nimbus, Cascuda: esses e tantos outros apresentam características que os colocam fora do grupo branco-saudável-perfeitinho do qual participam os protagonistas.

Mas aí você para e pensa: espera! E a Mônica, que vive sofrendo bullying por parte dos meninos? A principal agressão sofrida por ela é ser chamada de "gorda" de forma pejorativa. No entanto, como todos já percebemos, seu corpo é visivelmente igual ao da Magali, acusada de magra pelos mesmos amigos. Quando ela cresce, como essa questão é resolvida? Com uma cintura extremamente fina - ou seja, ao invés de ensinar as garotas a aceitarem e amarem seus corpos, qual mensagem é passada? "Relaxa, quando você for mais velha, melhora". Eis que surge a primeira personagem claramente acima do peso: Isa. Uma garota de bem com a vida, divertida, que logo conquista a amizade de todos, dá um lindo exemplo de auto-aceitação, joga na cara o preconceito dos protagonistas (que passam a edição inteira tentando fazê-la emagrecer)... E mais uma vez some atrás de tramas aleatórias e do já cansativo casal Mônica e Cebola. Poxa, Mauricio, tantos personagens legais e você fica dando voltas na mesma rotatória...

Três criações que eu julgo muito bem aproveitadas, principalmente na Turma Jovem, são Dorinha, Luca e Nimbus. Os dois primeiros são deficientes visual e físico, respectivamente, mas isso não é nem de longe o foco de suas aparições. Luca, principalmente, interage normalmente com os outros, participando inclusive das aulas de educação física. Porque, claro, ele é como todos os outros. Acredito que seja um dos únicos criados "pela diversidade" que mostrou o que, eu suponho, seja o objetivo do criador: que todos podemos conviver com as diferenças, aliás, aprendemos com elas.

Retomando ao tema dos orientais, com o qual iniciei esse texto, temos Nimbus: irmão de Do Contra, ele é descendente de japoneses, adora truques de mágica - o que lhe rende alguma participação nas histórias da Turma Jovem que envolvem fantasia e mundos paralelos -, é inteligente e sensível. Não luta artes marciais, usa uma faixa na cabeça com um ideograma ou é fissurado por videogames. Em suma, nada de estereótipos. Não foi difícil, foi?

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