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O som do silêncio ou Sobre bolhas, tentáculos e luzes

  • Foto do escritor: Júlia Mayumi
    Júlia Mayumi
  • 5 de set. de 2016
  • 2 min de leitura

"O silêncio está preenchido de sons. É como o branco, onde se juntam todas as cores". A fala de Martin Davenport, um dos personagens de As Águas-Vivas Não Sabem de Si, da brasileira Aline Valek, traz um dos temas mais importantes do romance, publicado este ano pela Fantástica Rocco: o som. Como a interpretação que fazemos dos sons que nos cercam é limitada, uma vez que priorizamos a visão em detrimento da audição. Em uma experiência bastante sinestésica, durante a leitura somos invadidos por diversas imagens sonoras: cantos de baleias, ondas se quebrando, pessoas falando... A água, aliás, é central no romance, que tem como verdadeiro protagonista o oceano, esse grande contingente de água salgada que ocupa 3/4 do planeta que insistimos em chamar Terra, retirando o foco do principal para homenagear aquela que nos abriga - em última instância, uma homenagem a nós mesmos.

O tempo todo nos lembrando de nossa insignificância diante da magnitude da natureza, ao mesmo tempo em que individualiza cada um de seus personagens, a autora muitas vezes dá voz a outros elos das cadeias alimentares: baleias, seres decompositores e, claro, águas-vivas nos emprestam suas perspectivas em diversos capítulos, como um convite a conhecer o inexplorado mundo submarino através de seus moradores.


A espinha dorsal do romance é a expedição Auris, da qual fazem parte dois cientistas, uma engenheira e dois mergulhadores que, através do patrocínio de uma empresa que deseja testar trajes de mergulho em grandes profundidades, acabam entrando em uma aventura maior: tentar descobrir se há vida inteligente no reino abissal, segundo acredita o doutor Martin, um dos integrantes do grupo. A personagem principal é Corina da Costa, mergulhadora que luta contra uma doença que pode acabar com o amor que se transformou em trabalho. Em uma pequena estação submarina, cinco pessoas que mal se conhecem são obrigadas a conviver por um longo período, sob a pressão não só de três mil metros de água acima de suas cabeças, mas de todos os problemas que os esperam na superfície.

As Águas-Vivas Não Sabem de Si é ficção científica, é filosofia, é mais uma tentativa de buscar respostas para perguntas milenares: há algo maior que nós? Qual nosso papel? De onde viemos? E, a mais enfatizada: estamos sozinhos?

Aline Valek nos presenteia em sua estreia com uma linda história, cujo enredo "humano" fica em segundo plano, destacando o milagre da vida, a luta pela sobrevivência e a beleza da natureza. Com uma sensibilidade impressionante, um estilo que nos convida a prender a respiração tal qual Corina faz em seus mergulhos em apneia e permeado de dados científicos - sem deixar de lado a boa e velha imaginação -, o livro propõe reflexões acerca de tudo o que nos caracteriza como seres humanos e do que nos faz parte deste mundo. Épico, sensível, inteligente e maravilhoso, o romance nos leva a baixar os olhos um instante e contemplar a magnitude do oceano, de onde surge toda a vida.

A autora tem um site incrível que você precisa conhecer! www.alinevalek.com.br/blog

Além disso, ela mesma montou uma playlist para você entrar no clima do livro e "ouvir o oceano".


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