Órfão de cerâmica ou Sobre bengalas, potes e comida
- Júlia Mayumi
- 14 de set. de 2016
- 2 min de leitura
O quanto você conhece sobre a produção de cerâmica na Coreia do séc. XI? Muito pouco, eu suponho. E sobre a vida dos aldeões dessa época? Menos ainda, imagino. Linda Sue Park, autora de Por um simples pedaço de cerâmica - ganhador da Newbery Medal, o principal prêmio de literatura infanto-juvenil estadunidense -, te apresenta esse universo, tão distante temporalmente, mas com algumas semelhanças pontuais ao nosso cotidiano.

Orelha-de-pau é um garoto órfão que vive debaixo de uma ponte, na pequena cidade de Ch'ulpo, em uma região conhecida pelos seus incríveis ceramistas, com o Homem-garça, o velho coxo que o criou. O menino sonhava em fabricar potes e vasos, e costumava observar o trabalho dos mestres da aldeia. Seu destino se cruza com o do mestre Min, ceramista reconhecido por suas habilidades, porém mal-humorado e grosso. Orelha-de-pau começa a trabalhar para ele, na esperança de que o ensine a moldar argila.
A narrativa se desenvolve de forma precisa, sem delongas ou vocabulário denso. Claro, é um livro "infanto-juvenil", mas passa longe de subestimar a inteligência do leitor ou de ser raso. Muito pelo contrário, é uma obra incrível que fala sobre ética, dignidade, lealdade e honra. O sábio Homem-garça ensina o tempo todo a Orelha-de-pau que deve sempre fazer o certo - "roubar não te faz melhor do que um cão". Todos os personagens são bem explicados e explorados, exceto a esposa de Min, a única mulher da história, que é bastante subaproveitada - mas, se considerarmos que o público-alvo são os pré-adolescentes, talvez a autora tenha optado por esse caminho para não se desviar do enredo principal, que é a história de Orelha-de-pau.
A edição brasileira é bem-feita de forma geral, sem erros de revisão e com o discurso que a autora fez sobre o livro ao receber o prêmio; o único ponto negativo é essa nova capa, brega (a foto está mais acinzentada, mas o vaso é verde-folha).
Por um simples pedaço de cerâmica traz um enredo pertinente, com ares de lenda mas que pode ser transportado para os dias atuais - ao menos no que tange à questão dos moradores de rua -, além de importantes lições sobre caráter, na forma de uma leitura rápida e proveitosa.
RECOMENDADO:
- Entrevista com a autora, em inglês [contém spoilers]
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